sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Entrevista com Jorge Luís Gonçalves, primeiro medalhista brasileiro nos Jogos Mundiais

Jorge Luís Gonçalves é faixa preta 5º DAN. Está atualmente em Brasília e é Diretor da Federação de Taekwondo Olímpico. Contudo, a importância deste taekwondista para a história deste esporte no Brasil vai muito além disso, visto que foi ele foi o primeiro medalhista brasileiro em Campeonatos Mundiais. Tudo aconteceu no ano de 1991, quando Jorge Luís Gonçalves ganhou a medalha de bronze, na categoria até 64Kg, no Campeonato Mundial da Grécia.

CBTKD: O que representa para si ter sido o primeiro medalhista brasileiro em Campeonatos Mundiais?  
Jorge Luís Gonçalves: Foi muito bom! Esse evento era o meu segundo Mundial, porque também tinha participado em 1987, em Barcelona. Em 1989 não ganhei a vaga e em 1991 consegui ir até à Grécia. Nessa altura, os Jogos eram por etapas. A primeira etapa era até às quartas de finais. Quem passasse essa etapa ficava três dias em descanso e teria outra oportunidade depois desse período. Quando me vi entre os atletas finalistas, nem acreditei. Era o único brasileiro. Foi aí que ganhei a medalha contra um atleta dos Estados Unidos, muito famoso na altura – Kevin Padilla. Acreditei muito, juntamente com o meu técnico, e a gente buscou esse resultado. Mas a ficha só caiu quando eu cheguei aqui no Brasil, porque não tínhamos parado para pensar que era a primeira medalha para o Brasil de um Campeonato Mundial.

CBTKD: Como foi na altura a receptividade das pessoas a essa vitória?  
Jorge Luís Gonçalves: Todos os colegas do meio me parabenizaram e tive muita receptividade na minha cidade. Mas, uma coisa que me deixou super triste na época, é que a Confederação Brasileira, que era liderada por outros diretores, não fez nenhuma homenagem e muita gente nem sabia que eu tinha ganhado essa medalha. Passaram-se até alguns anos sem ninguém saber. Houve muita resistência e, na altura, essa falta de reconhecimento foi o que me frustrou.

CBTKD: Mas acha que atualmente a situação é diferente, quanto a esse reconhecimento?  
Jorge Luís Gonçalves: Eu já percebo isso de há um tempo para cá. Já percebi uma grande evolução. Agora se valoriza o atleta. Acho que deve haver reconhecimento porque só o atleta sabe o quanto é desgastante trabalhar assim todos os dias em busca de algo que às vezes nem é economicamente vantajoso. A Confederação hoje está bem melhor em relação aos atletas. Dá-lhes reconhecimento, tem um espaço para poder divulgá-los, mesmo que eles tenham ganho uma medalha que não seja tão expressiva. Eu acho que a tendência é essa, pois a Confederação tem que pensar também naqueles que estão tentando buscar um ouro e não conseguiram.

CBTKD: Em 1991, quem o apoiou para ir até à Grécia?  
Jorge Luís Gonçalves: Eram quatro atletas de Brasília que estavam classificados para o Mundial. Na minha época, a gente juntou o mestre André e o mestre Abreu e aconteceu uma história muito engraçada. Participamos de uma reunião da administração da cidade e chegamos lá de dobok. Ninguém sabia o que ia acontecer. Um dos meus mestres pediu a palavra e começou a falar do Taekwondo, dos atletas de Brasília que iam ao mundial e da falta de apoios. Daí surgiu a iniciativa de correr atrás de patrocínios. Administradores e perfeitos da cidade se sentiram comovidos e abraçaram a causa. Fomos de loja em loja pedir patrocínios e arrecadamos todo o dinheiro que precisávamos. Foi graças a isto que consegui ir ao mundial e que trouxe a medalha para o Brasil.

CBTKD: Como foi a preparação física?  
Jorge Luís Gonçalves: Eu sempre treinei muito na minha vida. Eu estudava e treinava de manhã, à tarde e à noite. Não havia, como hoje, as preparações específicas. Era tudo por conta da gente mesmo. Naquela altura o Taekwondo era muito mais Taekwondo do que preparação. Só de vez em quando fazíamos uma preparação física à parte.

CBTKD: Quer acrescentar algo mais? 
Jorge Luís Gonçalves: Queria dizer que eu, como Diretor da Federação de Brasília, apoio muito o presidente Carlos Fernandes. Viajamos juntos no primeiro Mundial de 1987. Disputamos pesos diferentes, mas éramos parceiros. Desejo-lhe muitas felicidades e quero dizer-lhe para seguir o caminho dele. Ele já foi atleta e acho que está no caminho certo, ao pensar mais nos atletas.

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